terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ADORAÇÃO OU SHOW


“Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”(Jo.4:24).

Ultimamente um assunto que está na moda é adoração. Até perece que ninguém sabia nada sobre o assunto, e de uns anos pra cá, alguns “iluminados” o descobriram e curiosamente se transformaram em professores, ministrando cursos de adoração até. Tem sido alardeado que esta é uma geração de adoradores. Pois bem, será que o que tem sido feito , e dito, como adoração, passa pelo crivo bíblico? As pessoas que vão às igrejas hoje, vão com a motivação certa? A Igreja do Senhor tem adorado realmente? Queria refletir com você sobre alguns aspectos desse tema.

a) O que é adoração?

Acho que devemos começar essa nossa conversa definindo o termo. Das definições correntes, duas tem me chamado atenção: Wayne Grudem define adoração como sendo “ a atividade de glorificar a Deus em sua presença com nossa voz e com nosso coração”. (1) Ronald Allen e Gordon Borror descrevem o ato de adorar como: "uma reação reativa a Deus, pela qual declaramos sua dignidade ... Adoração não é simplesmente um clima; é uma reação ... é uma declaraçãO".(2) Concordo com estas palavras, pois quem adora atribui mérito supremo, exalta o ser adorado. Portanto. Deve-se ter em mente que quem vai adorar, cultuar, vai dar algo a Deus. Assim,falar de culto é falar de algo que damos a Deus.

O cristianismo moderno parece estar comprometido com a idéia de que Deus deve estar dando algo para nós ... mas precisamos compreeender o equilíbrio dessa verdade -devemos render honras e adoração incessante a Deus. Esse desejo consumidor e altruísta de dar a Deus é a essência e o âmago do culto. (3)

Bem diferentes estas definições dos cultos atuais, onde os participantes são atraidos não por dar, mas por receber a bênçaõ. E são chamados a isso pelos pregoeiros modernos. Nas Escrituras o adorador é chamado a conceder, o receber de Deus é conseqüência disso.

“Tributai ao SENHOR, ó famílias dos povos, tributai ao SENHOR glória e força.Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios (Sl 96:7-8).

Proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Ap.5:12).

É isso. A essência da adoração é dádiva. Quem adora atribui, celebra. Celebração essa que não se resume em cantar hinos sem meditação. Os hinos têm de elevar o coraçãodo adorador a Deus; pela mensagem que foi transmitida. (Dt. 10:12-13).


b) O lugar da reverência.

Vivemos um tempo de familiaridades demais com Deus, onde parece não haver o devido temor. A adoração verdadeira só procede porém de quem tem noção do quão exaltado é Deus (Sl. 8:9; 29:1-2,27:42;104:1). Só com esta preocupação é que se presta um verdadeiro culto. Sinceramente, muito do que se tem feito nas igrejas hoje, e que se chama adoração, não tem contribuído para esta atitude de reverência ao Senhor. As vezes se tornam banais, cantando coisas que até desrespeitam a Deus, ou usando palavras de tratamento impróprias. Deus parece mais como colega de escola, o vizinho da esquina, do que com o Rei do Universo. Talvez o escritor de Hebreus já pensasse nisso quando alertou:

Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor (Hb.12:28,vd.2 Co.7:1; 1Pd. 1:17).


c) Sacrifícios de Louvor.

No Antigo Testamento os sacrifícios oferecidos a Deus não podia ter defeito algum (Lv. 22:19;Dt.15:21; 17:1). O povo foi duramente repreendido por Deus ao oferecer sacrifícios imperfeitos (Ml. 1: 6-14). A adoração, o louvor é hoje um sacrifício voluntário do cristão a Deus (Hb. 13:15), portanto, deve-se ter muita atenção em como está sendo oferecida esta adoração, em vista das leis de perfeição que regulam os sacrifícios. A adoração esta entre as obras do cristão que serão julgadas no tribunal de Cristo (1Co.3:13b), julgamento este que vai ser segundo a nossa motivação do coração (1Co 4:5). Será que hoje o que se chama de louvor e adoração é realmente o melhor pra Deus? Ou a má qualidade das letras e das músicas atuais está mais para aquilo que é mais fácil, que vende bem, que “não custa nada” (cf. 1Cr.21:24)?


d) O Modelo bíblico.

Na adoração o importante é o que Deus acha, não o que o adorador acha. Russell Shedd é muito feliz quando diz:

Em diversas partes do mundo surge um volume notável de literatura como objetivo de tornar a adoração cristã mais contemporânea, mais relevante e contextualizada. Quando o interesse dos que congregam para adorar se torna alvo prioritário, oculto forçosamente ganha características de entretenimento. A experiência do adorador recebe prestigio acima da do criador. Mas o que de fato é relevante é o que Deus acha do nosso louvor, orações,mensagens e ofertas. (4)

É a “religião-show”, onde o bem-estar do participante está sempre em primeiro plano. Mas isso é conseqüência da falta de entusiásmo pelo evangelho da Bíblia, e não adoração.

Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas, rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice. (5)

Sinceridade é essencial para a adoração, pois o culto hipócrita é fortemente confrontado por Deus ( Is. 1: 11-15; Os. 6: 4-6; Am. 5: 21-24), mas a sinceridade só não basta. Em matéria de adoração o modelo quem fornece é o próprio Deus (Dt. 4:2; 12:32).O homem não está livre para adorar conforme sua própria vontade, mas apenas em “verdade”, isto é, de acordo com os mandamentos de Deus .(6)


e) O lugar de Deus.

Com as novas técnicas de adoração voltadas para a satisfação do adorador, que crescem e são inventadas a cada dia, tudo para que a pessoa se sinta bem, o lugar de Deus tem sido usurpado do processo de adoração. Incrível,mas é verdade! Muitas vezes o que está fazendo não é adoração,mas satisfação pessoal. A criatura tomou o lugar do Criador. Entretanto, o culto não pode te o homem como centro, e sim Deus. Todas as atenções devem estar voltadas para Deus. Na Igreja todos são atores, a única platéia é Deus, em volta de quem tudo deve girar. Aliás, essa é a condição para Deus está presente no culto (Mt. 18:20). Mas, muitas músicas de hoje, a programação de sua igreja, retratam isso vivamente? Ou será que o culto virou uma peça teatral que as pessoas vão assistir? Deus tem sido o centro ou um mero coadjuvante?


Conclusão:

O que temos dado ao Senhor como adoração? Que pensamentos nutrimos sobre este assunto, quão reverentes somos, como temos seguido o modelo bíblico? A Igreja existe para adorar (Ef. 1: 3-6), é da adoração que ela tira sua força:Para que a Igreja seja eficaz como exército de Cristo, ela tem de ser eficaz como adoradora de Cristo, logo o Exército depende da Noiva ... o primeiro projeto da Igreja é um projeto de adoração. (7)

Cantar cânticos com palavras sem sentido, fazer gestos que não dizem nada, aceitar fórmulas e rótulos vazios, que em nada edificam a vida; não é culto, não é adoração, é um arremedo, é mágica. A Igreja precisa adorar, e nestes tempos mais do que nunca.

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NOTAS:

(1) GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999),p. 847.

(2) ALLEN, Ronald e BORROR, Gordon. Teologia da Adoração (São Paulo: Vida Nova,2002),p. 16. Vd. SHEDD, Russell P. Adoração Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2001),p. 13.

(3) JR.,MacArtur, John (ed). Redescobrindo O Ministério Pastoral (Rio de Janeiro: CPAD, 1998),p. 271. Vd. RAMOS, Ariovaldo. Igreja e eu com isso? (São Paulo:Sepal, 2000),pp.26-27.

(4) Op. Cit. p.46. Vd. BROWN, Archibald. Entretenimento- Uma Estratégia do Inimigo” em Fé para Hoje (São Paulo: FIEL,n°27/2005).

(5) Charles Spurgeon, citado em JR. MacArtur,John F. Com Vergonha do Evangelho (São Paulo: FIEL, 1997),p.73.

(6) SHEDD, Russell. Op. Cit. p.138.